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Estudante com deficiência visual é aprovado na Federal do Paraná para medicina
ESTUDOS - Leonardo dos Santos possui apenas 10% da visão, o que não o impediu de correr atrás do seu grande sonho de infância
Cinco horas por dia, 35 por semana: uma rotina de estudos comum para quem sonha em ser aprovado no vestibular de medicina, sobretudo quando a vaga em questão é numa das instituições mais disputadas do país, a Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. E a dedicação do morador de Itanhaém, Leonardo dos Santos, deficiente visual, de 18 anos, veio a comprovar que quando há determinação, não há limitações. Ultrapassar barreiras se tornou quase que um mantra na vida do jovem. “Como em qualquer curso, é preciso muitas horas de dedicação”.
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A medicina sempre se fez presente na sua vida. Quando criança passou horas com doutores no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Daí a inspiração em seguir a mesma profissão. Em casa, todos são deficientes visuais, o pai, a mãe, o irmão – Edson dos Santos Júnior (20% da visão) e Leonardo. A deficiência do pai, Edson dos Santos, se deve a um tumor no cérebro. Já a mãe, Maria Isabel de Oliveira Santos, nasceu com catarata, e seus filhos com a mesma doença congênita.
“Sempre vivi no ambiente de doutores. A medicina foi a primeira coisa que me veio à mente. Hoje, tenho apenas 10% da visão no olho direito, já no esquerdo sou completamente cego. Tive catarata congênita, fiz cirurgia e agora tenho glaucoma, que altera a minha pressão ocular, por isso, preciso de acompanhamento constante”, ressalta Leonardo. O glaucoma é um conjunto de diversas doenças distintas que envolvem a pressão intraocular associada à neuropatia óptica. “É uma doença degenerativa. Pode cair ou não, depende se eu conseguir estabilizar”.
O jovem estudou o Ensino Médio atrelado ao curso técnico de Informática para Internet na Escola Técnica (ETEC) de Itanhaém, durante o dia, e se preparou em um cursinho em Santos, à noite. Um amigo o acompanhou nas aulas para ditar e escrever o que estava na lousa para o caderno. “Esforcei-me bastante. Ler eu consigo, só que com alguma dificuldade. Porém, isso me cansa muito. Foi um período de muita dedicação. Meus pais sempre me apoiaram e isso me dá forças. Confesso que eu não imaginava passar mesmo porque foram mais de 8 mil inscritos somente no curso de medicina”.
As aulas do curso de medicina só iniciam em agosto. Enquanto isso, a família foi a Curitiba para conhecer a universidade e procurar uma casa para a mudança do filho. Sobre as dificuldades de morar sozinho numa cidade diferente, ele é categórico: “Sou curioso, não tenho problema em ficar num lugar que não conheço. Já falei que sou enxerido? Gosto de perguntar, por isso não será problema, eu me viro. Outra coisa: farei amizade com alguém de medicina e isso me ajudará”, explica Léo.
O rapaz conhece muito bem as curvas e os degraus de Itanhaém, mas enfrentar detalhes simples do cotidiano como pegar um ônibus, descer no ponto certo e andar pelas ruas será um desafio. “Até eu me adaptar, andarei de bengala, como o meu pai”, diz entusiasmado. “O som virou minha maior percepção para as coisas. O que as pessoas muitas vezes julgam ser um barulho, eu posso afirmar que é um carro. Isso fica evidente para uma pessoa com deficiência visual”.
EM CASA – A rotina da professora da Rede Municipal de Ensino Maria Isabel de Oliveira Santos começa bem cedo. Seis da manhã e ela já está de pé, pronta para mais um dia. Seu marido, Edson dos Santos, se prepara para trabalhar: é funcionário público e também fisioterapeuta. Quando dá tempo de manhã, ela aproveita para adiantar as tarefas domésticas. Varrer a casa é a primeira delas. Passando os pés pelo chão de cada cômodo, ela sente as sujeiras. Circular pela casa não é problema. Todos já decoraram as portas e móveis, por isso a importância de cada objeto em seu lugar.
Cuidar das roupas é outra tarefa: depois de estender e recolher as peças, ela consegue diferenciar as cores muitas vezes pela textura do material. Isabel tem apenas 5% e enxerga vultos. Cozinhar é algo que faz com tranquilidade. “Ela demora mais do que o normal, mas a comida é ótima, melhor do que a de muitas pessoas”, elogia o caçula.
Ela prepara o arroz, o feijão, além de fritar o bife. Ao preparar uma salada, Isabel redobra a atenção. O tomate é cortado lentamente, temendo cortes. Quando a família está reunida, o lugar preferido é o sofá da sala, onde há uma televisão. A um metro de distância do televisor, seus rostos não se incomodam com a luz da TV. “Eles [os filhos] nos ajudam a entender o que se passa no noticiário. Quando ficamos mais perto, o som é melhor”, conta Edson, pai. “Só tenho orgulho deles, só me dão alegria”.
Palavras-chave: deficiente visual, educação, escola, estudos, federal, medicina, universidade
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