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Publicado em: 23/01/2019 - Última modificação: 16/11/2020 - 11:57
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Maestro, saxofonista e compositor: Sarrafo completa 100 anos

UM SÉCULO - Conheça a história de Amintas José da Costa saxofonista que teve a vida salva pela música



Filho de Maria Emília e José Padre da Costa, o nordestino nasceu em Sergipe, em janeiro de 1919

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Os 100 anos de quem se encontrou na música e ganhou a vida por meio dela. Esta é a história de Amintas José da Costa, popularmente conhecido como Maestro Sarrafo, que completou no último dia 22, um século de vida. Filho de Maria Emília e José Padre da Costa, o nordestino nasceu em Sergipe, em janeiro de 1919 e teve seu primeiro contato com o saxofone na adolescência. Sua habilidade com o instrumento foi perceptível logo no início, quando estudou na banda do professor José Viana e se destacava entre os alunos. O instrumento é seu companheiro de trajetória e o salvou da guerra.

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A vida de Amintas começou a tomar forma quando em 1937 entrou para a Força Pública do Estado de Sergipe e começou a tocar na corporação, onde testemunhou fatos históricos como a captura do cangaceiro Lampião. Com o desejo de prosseguir na música, Costa decidiu mudar-se para o Rio de Janeiro, lugar que sempre sonhou conhecer. “Naquela época, o sonho de todo jovem era conhecer a capital do país”, conta.

No Rio de Janeiro, entrou para o serviço militar, tornou-se 2º sargento músico da Força Pública e aperfeiçoou seu talento sendo aluno ouvinte na Escola Nacional de Música do Estado. Por não ter o primário completo, o maestro conta que assistia às aulas como ouvinte e aprendeu as mesmas técnicas que os outros, além de um novo instrumento, o clarinete. “Não estava em busca do diploma e sim de conhecimento”, recorda.

CARREIRA – Nos palcos, na vida e na música, Maestro Sarrafo sempre carregou consigo o saxofone. Não foi diferente quando soube da convocação para a Segunda Guerra Mundial, em 1943, quando embarcou em um navio superlotado que ia do Rio de Janeiro a Recife, onde aconteciam os treinamentos. A viagem durou oito dias em alto mar e a chegada de Costa com o saxofone despertou um capitão que o fez provar que sabia tocar o instrumento. “Ele me entregou um livro com músicas militares e perguntou se eu sabia ler as partituras. Ao afirmar fui colocado à prova, mostrei tocando e me confiaram a missão de ensinar música aos soldados, pois era o único que sabia”.

O trabalho que estava realizando no batalhão distanciou as possibilidades do maestro ser chamado para ir ao campo de batalha, o que definiu seu destino. “Naquele momento vi que a música salvou a minha vida. A maioria dos que foram não voltaram, mas eu fiquei, graças ao saxofone, meu companheiro de todas as horas”, comemora. A carreira como militar encerrou no fim da guerra, mas sua trajetória como músico estava só começando. Amintas voltou para o Rio de Janeiro e dedicou-se aos palcos. Apresentando-se em casas de baile, conheceu renomados chorões e compositores da música brasileira como Radamés Gnattali, Pixinguinha e Edmundo Villani-Côrtes.

As andanças e experiências do saxofonista deram a ele a origem de seu apelido. ”Nos bailes as pessoas diziam “toca o sarrafo” e o nome acabou virando minha marca ao longo da carreira”. Além de maestro e saxofonista, Sarrafo é compositor. Em 1968 gravou seus primeiros choros, obras que ficaram perdidas em um estúdio fechado pela ditadura militar, que recentemente foram resgatadas pelo grupo Choro Opus Trio, composto por três músicos que se empenharam em um trabalho de pesquisa e interpretação das partituras originais para as gravações. O resultado é a conquista do primeiro CD do trio nomeado “Descendo Sarrafo”.

NA MÍDIA – Costa não só acompanhou a transição do preto e branco ao colorido como participou de diversos programas de televisão e rádio. Esteve na orquestra do Silvio Santos, no programa do Chacrinha e foi maestro da TV Tupi. Ele conta que sua profissão o proporcionou grandes momentos e amizades. “Fui amigo de Luiz Gonzaga, acompanhei Jair Rodrigues nos bailes e também na sua estreia com cantor. A música me levou a muitos lugares e me deu muitas oportunidades, vi surgir muitos cantores que seguiram conselhos meus, é uma honra ter vivido tantos momentos”.

Quando indagado sobre os aprendizados em 100 anos de vida, o maestro sorri e afirma: “É impossível dizer somente uma experiência, a música abriu meus caminhos, mas sempre guardei comigo os ensinamentos de meu pai e honrei a minha família. Aprendi a me defender, soube desviar de falsos aplausos e o mais importante, sempre respeitei as pessoas”.

EM ITANHAÉM – O maestro chegou a Itanhaém em 1980, comprou um terreno na Cidade e trabalhou como docente na Casa da Música. Sua residência também foi uma escola dedicada à música, hoje, Sarrafo coleciona memórias e a alegria de ter sido inspiração para tantos jovens.


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