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Mestre deficiente visual se dedica ensinando capoeira para crianças no Jardim Oásis
SUPERAÇÃO - Próximo aos 40 anos de idade, o capoeirista Denis Alexandre Silva viveu momentos de coragem e superação, transformados hoje no amor pelo voluntariado
Na roda, olhos e ouvidos atentam-se aos conselhos de quem teve a capoeira como berço e construiu uma história dentro dela. Próximo aos 40 anos de idade, o mestre Denis Alexandre Silva viveu há 17 anos, momentos de coragem e superação, transformados hoje no amor pelo voluntariado, ao qual se dedica a ensinar para crianças e adolescentes a homogênea mistura entre esporte, luta e dança denominada capoeira. A doação deu novo sentido à vida do professor, que é deficiente visual e atua no Centro de Artes e Esportes Unificados (CEUs), no Jardim Oásis.
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O gingado que encantou seu pai, José Rodrigues da Silva, conhecido como mestre Japão, despertou paixão em Denis desde a infância, quando aos quatro anos começou a jogar capoeira e não parou mais, conquistando o título de mestre. O amor pelo esporte expandiu os horizontes de pai e filho, que hoje têm grupos de capoeira em Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá e Praia Grande. Juntos, os dois formam mestres e ensinam a comunidade.
No Centro de Artes e Esportes Unificados (CEUs), Denis trouxe para a roda aprendizados e situações que vão além da capoeira, construindo vínculo de amizade com os alunos e até mesmo com seu filho, Gustavo Alexandre Silva, de 10 anos, que também participa das aulas. “Meu pai é a minha inspiração. Ele sempre diz para eu dar o meu melhor e me dedicar”, comenta.
Diferentemente de Gustavo, a jovem Liandra Clara Alves, de 12 anos, descobriu a capoeira por acaso, foi seguindo o som do berimbau até encontrar o mestre Denis e seus alunos. “Eu ouvi uma música diferente e cheguei até aqui. Quando estou na roda me sinto leve, é muito gostoso fazer a capoeira”. Indagada sobre a relação com o mestre, Liandra diz que aprende muito mais do que os movimentos. “Ele nos ensina a ter respeito e sempre diz que o esporte não é feito para brigar, e sim para se defender”.
A capoeira no jardim Oásis não é um acaso. Isso porque o mestre mora na região e já realizava aulas no quintal de sua casa, quando surgiu a oportunidade de atuar como voluntário, uma iniciativa que despertou o interesse dos moradores, como comenta o coordenador da Praça CEUs, Luciano Dias. “A capoeira despertou o interesse de jovens e adolescentes que passaram a frequentar o local. E mesmo com frequência inconstante, eles gostam e participam das aulas às quartas e sextas-feiras”.
A LUTA ALÉM DA CAPOEIRA
Entre a capoeira e a vida pessoal, aos 24 anos, Denis Alexandre exercia a função de balconista em uma empresa de artigos fotográficos. E foi tirando fotos que percebeu a falta de foco ao registrar imagens. Com o apoio do seu antigo chefe, Denis procurou um oftalmologista e foi diagnosticado com retinose pigmentar, uma doença ocular rara que gera a perda gradativa da visão.
Ao descobrir a doença, a agonia se fez presente na vida do capoeirista, que pouco tempo depois descobriu a catarata nos dois olhos. “No momento em que o doutor me contou a gravidade da situação, meu mundo caiu. Eu já não pensava em mais nada, apenas nas consequências do que estava vivendo”, conta. Denis passou por duas cirurgias, uma para operar a catarata e outra para inserir uma lente que o ajudaria a enxergar melhor.
Passado o processo de recuperação, no dia 16 de maio de 2010, em um batismo de capoeira, o mestre entrou na roda para jogar e no decorrer da dança foi atingido com um golpe no olho esquerdo, que causou um trauma fatal, resultando na perca total da visão. “Esse foi um dos momentos mais dolorosos da minha vida, pensei em muitas coisas, até mesmo em desistir, mas a fé e minha família me sustentaram”, relata.
O momento conturbado levou Denis ao oftalmologista doutor Fábio Suga, médico da Santa Casa de Santos, que lhe ofereceu tratamento gratuito em sua clínica particular. “Ele foi um anjo na minha vida, jamais terei palavras para agradecer. Foi o responsável por restaurar a estética do meu olho, sem sua ajuda não sei o que aconteceria”.
Atualmente, Denis tem 30% da visão no olho direito e já passou por oito cirurgias no olho esquerdo, o qual já não enxerga mais. Entretanto, ele conta que a deficiência ainda é um obstáculo a ser vencido, pois após o ocorrido ficou proibido de jogar capoeira. “Estou privado de entrar na roda, o que me machuca muito. É como se você fosse um jogador de futebol e arrancassem uma de suas pernas”.
Embora o percurso não tenha sido favorável aos objetivos e ambições do menino de 24 anos, o mestre encontrou no voluntariado um trabalho valioso. “Mesmo sem receber um retorno financeiro, a capoeira na comunidade tira muitas crianças da rua e ensina valores sociais. Já ajudei muitos alunos dando conselhos, faço isso porque sou apaixonado pelo esporte”.
Enxergar a vida da melhor maneira possível é a principal premissa de Denis Alexandre, que agradece dia a dia pela oportunidade de enxergar. “Conseguir acordar mesmo sabendo que tenho um problema para a vida toda é gratificante. Sou feliz porque Deus me dá uma luz, meu sonho sempre foi acompanhar o crescimento do meu filho, que hoje tem 10 anos e, para minha surpresa, terei mais um. Não tenho tempo para a tristeza”.
Palavras-chave: capoeira, centro de artes de esportes unificados, jardim oásis, praça CEUs
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